Monday, October 15, 2012

A mudança



O secretário do Ascendino era o Vanderlei Pretini, (irmão do Airton Pretini, que deu nome à avenida que corre por baixo do Viaduto Engenheiro Alberto Badra) o qual depois foi reitor da Universidade de Guarulhos. Magro, alto (para os padrões da época), elegantíssimo, cultivava uma figura de galã e tinha um tanto de reputação de conquistador, embora, na escola, seu comportamento fosse irrepreensível. Sorridente, diplomático, era a antítese do sério e rígido Benedito. Mas a secretaria do Ascendino, a despeito da falta de pessoal e equipamento, funcionava muito bem e jamais ouvi alguma crítica ao trabalho do Vanderlei. E a dupla, ao que parece, funcionava bem, a despeito das diferenças de personalidade.

Acho que o ponto alto da carreira do Vanderlei no Ascendino foi a mudança. Sim, porque houve uma mudança. Se estávamos no prédio velho e fomos para o prédio novo, houve uma mudança.

Foi assim, eu estava lá e vi:

Um dia, o prédio ficou liberado para nós e ficamos todos satisfeitos. Eu não ia estudar no prédio novo, mas estava satisfeito como os outros. Fui pessoalmente humilhado pela diretora do Congonhas, uma senhora arrogante que nos tratava por morcegos, porque vivíamos à custa do sangue dos outros. Queria olhar aquela mulher de cima, dizendo, veja, agora, o ninho dos morcegos.

Mas, claro, tinha a mudança. Não havia muito a mudar, é certo, porque todo o mobiliário de classe pertencia ao Congonhas. Mas havia mobiliário de diretoria e secretaria, laboratórios e mais umas coisinhas.

Durante as férias do Benedito, o Vanderlei e o Herlis Moidano Lopez e talvez mais uma ou duas pessoas resolveram pegar o pião na unha. O Herlis sempre teve um forte espírito de liderança, como todos os que o conheceram sabem, e jamais perdia a oportunidade de organizar um grupo para fazer alguma coisa.

Conseguiram um caminhão emprestado com o pai do Milton di Beo, que tinha uma fábrica de móveis na Euclides Pacheco e, um belo dia, fomos lá fazer a mudança. Eu, que era dos mais novos da turma e sempre fui fisicamente muito fraco, mas era e ainda sou muito metido, fui de café com leite. Dei uns berros de incentivo, sabe, aquela coisa do vocês fazem força daí que eu gemo daqui, mas não passei disso.

Minha maior lembrança daquele dia é uma turma empurrando um armário cheio de papéis pelo corredor e, depois, descendo as escadas com ele. Foi milagre o armário não ter se desfeito em vida e ninguém ter se machucado. Mas mudamos e mudamos bem.

O folclore da escola diz que, dias depois, o Benedito, ainda em férias, ligou para o Vanderlei, para dizer que era necessário providenciar a mudança junto às autoridades. Quase teve um desmaio quando o Vanderlei disse que já estava tudo no lugar.

Quem quiser saber a história direitinho, pergunte ao Herlis.



Tuesday, October 9, 2012

Primeiras impressões




Texto do Nelson Carvalheiro, a quem creio que todos nós devemos um agradecimento. Conheci toda essa gente e deles tenho praticamente as mesmas impressões que o Nelson.


Ao entrar no AR, em 1958, assim como a maioria de meus colegas, tive algumas surpresas, pois não estava preparado para tantas novidades. Primeiro, havia um professor para cada disciplina; segundo, os alunos eram tratados como gente grande; terceiro, era preciso estudar, pois havia provas bimestrais, um exame parcial no meio do ano e os temidos exames finais – escritos e orais. Quem não era aprovado ainda podia enfrentar os exames de segunda época, mas essa era uma possibilidade que gerava mais pânico do que expectativas de salvação.

A maior novidade, para mim, foi o aprendizado de idiomas. Aqui incluo a disciplina de Português, não apenas por se tratar da língua pátria, mas também para aproveitar algumas lembranças frescas após encontro neste último fim de semana, com meu amigo Laerte Franulovic, o grande Lalá, exímio violonista e dotado de memória espetacular.

Tive mais de um professor de Português, não lembro em que ordem: Marilene, Nilza e Sergio. A Profª Marilene era recém-formada e a Profª Nilza era a gentileza em pessoa. Mas quem mais se consolidou em minhas lembranças foi o Professor Sergio. Quando ele entrava na classe, aguardava até que o último e mais distraído aluno se levantasse, para só então estender sua mão para frente e sinalizar para que todos sentassem. Ele ensinava sempre com expressão séria e só fazia brincadeiras quando algum aluno se excedia em desatenção. Ele apontava o aluno, ordenava que ele se levantasse, perguntava seu nome e fazia uma pergunta sobre a matéria. Invariavelmente o aluno não tinha resposta e só aí o professor fazia alguma graça. A mais conhecida era a anotação de um zero para o aluno, que ele chamava de “rosquinha de leite”.  O Laerte lembrou que corria uma lenda na escola sobre a extensão do preciosismo gramatical e vocabular na vida pessoal do Professor Sergio: dizia-se que seu filho pequeno, durante o café da manhã em família, pedia “por favor, papai, passe-me a manteiga, pois dela quero fazer uso”

O professor de Latim era o Ariovaldo, temido, mas respeitado. Ele era grandalhão, usava óculos e tinha uma voz marcante. Às vezes, depois do intervalo grande, quando muitos alunos começavam a esboçar um pouco de cansaço, ele contava histórias curtas, com finais surpreendentes e às vezes aterrorizantes, que despertavam todos e davam novo ânimo para o prosseguimento da aula. Também era comum ele falar de seus tempos de estudante, quando colocava sua mesa perto da porta, para que seus pés recebessem a corrente de ar frio e ele se mantivesse desperto. Para ter uma ideia de como ele era rigoroso, lembrou-me o Laerte, em seu último dia como professor do AR alguns alunos soltaram fogos em frente ao prédio velho. Quem o substituiu foi um professor baixinho, de feições asiáticas (na época podia-se falar que era um japonesinho), cujo nome não recordo. A lembrança que guardo do Professor Ariovaldo é a de um homem muito competente, que conseguia “tirar leite de pedra”. Não sei como, mas conseguíamos aprender as declinações e a conjugação dos verbos, acabando por fazer traduções e versões, embora com algum sofrimento.

O professor de Francês era o Marcelino Casagrande, que raramente sorria, mas também se vestia solenemente e era respeitado pelos alunos. Contou-me o Laerte que os alunos mais velhos, das classes mais adiantadas, faziam de tudo para deixa-lo encabulado, perguntando como se falava goiaba, ou jabuticaba em francês. Em suas aulas, todos os alunos liam em voz alta pequenos trechos do livro. Seu grau de miopia era elevadíssimo e ele usava óculos com lentes grossas. Nos dias de prova, quando ele se acomodava em sua mesa e tirava os óculos para um rápido descanso, essa era a senha para que alguns alunos colassem descaradamente. Nas minhas férias, eu passava algumas semanas na Praia Grande e encontrava com ele frequentemente. Ele não tinha a menor cerimônia em mergulhar com seus famosos óculos presos na cabeça com um elástico.

O curso de Inglês começou na segunda série e era fantástico, graças ao Professor Gilberto Rizzo. Tenho certeza de que todos os alunos se surpreenderam ao serem tratados pelo sobrenome. Ele conseguia controlar a classe com calma e bom humor e era muito querido pelos alunos. Quando ele saiu da escola, foi substituído pela Professora Ofélia, que não tinha o mesmo carisma. Lembro que ela nos ensinou algumas músicas e, quando a maioria perdia a inibição, cantávamos músicas como You belong to me, My bonnie e Monalisa. Outros alunos tiveram aula com outro professor, muito fino e educado, conhecido como Dudu.

Ao terminarmos o ginasial, tínhamos a expectativa de também começar a aprender Espanhol no colegial, mas seu ensino foi abolido a partir de 1961.

Tive duas professoras de Matemática no prédio velho. A primeira delas foi a Professora Hortênsia, que era recém-formada. Ela veio para a escola com grande entusiasmo, a ponto de se dispor a dar aulas extras em um ou dois dias da semana em que não tínhamos a última aula. A sala de aula ficava repleta de alunos, pois até mesmo os que não tinham dificuldades com a disciplina compareciam. Mais tarde, fui aluno da Professora Graciosa, que não era de brincar, mas era respeitadíssima por todos os alunos.

Tive dois professores de Geografia, pois primeiro aprendíamos Geografia Geral e depois Geografia do Brasil. A professora de Geografia Geral era a Eneida, e dela não guardo nenhuma lembrança em particular. Mais tarde passamos a ter aulas de Geografia do Brasil, com o professor Eli Piccolo. Quando ele recomendou o livro que deveríamos usar, escrito por ele e Renato Stempniewski, todos na classe explodiram em risadas, por causa do inusitado sobrenome. Recebemos uma severa admoestação do professor e uma lição importante: qual o sentido de divertir-se com o nome ou o sobrenome de alguém?

A professora de História era um dos símbolos do AR: D. Mercedes, uma mulher de pequena estatura, mas muito competente. Ela era bastante séria e severa, e conseguia prender a atenção dos alunos com maestria. Conversávamos bastante, pois ela ia com alguma frequência até minha casa para deixar livros velhos para restaurar e encadernar. Meu pai tinha uma pequena oficina nos fundos da casa e eu atendia as pessoas que o procuravam com livros em mau estado de conservação. Como éramos conhecidos, muitos me chamavam de “queridinho” da D. Mercedes; isso não impediu que em certa ocasião ela me flagrasse colando e me desse nota zero em uma prova. Mais tarde, no primeiro ano do colegial tive aulas de História Geral com a competente Professora Vera, que considero a grande responsável por cultivar em mim o hábito de ler e estudar.

Por fim, tive o privilégio de conhecer o Professor Durvalino, que dava aulas de Trabalhos Manuais para os meninos e era o substituto do Diretor, Professor Benedito Ferreira de Albuquerque (conhecido como “Ditão”). O filho do Ditão chamava-se Ciro e era meu colega de classe. Ele era um aluno comportadíssimo. Algum dia vou contar uma história de uma “guerra” de giz que rendeu uma suspensão generalizada a todos os alunos, menos ao Ciro, inocentado por todos os guerreiros da classe.

Tive outros professores cujo nome não lembro, como os de Ciências e Desenho. As poucas lembranças que guardo deles eram a de serem pessoas sérias, dedicadas e discretas.

Estejam onde estiverem, todos esses mestres merecem ser lembrados com histórias melhores do que as minhas. Não tenho dúvidas de que, para muita gente, eles tiveram grande importância no rico ritual de passagem da infância, e mesmo da adolescência, para a vida adulta.







Saturday, September 15, 2012

FESTA DE ANIVERSÁRIO E CONGRAÇAMENTO





Dia 20/10/2012, às 9h30, tem a festa de confraternização entre alunos e ex-alunos, professores e ex-professores do Ascendino.

Em mensagem particular, a Professora Rosana Francisco me pediu para organizar uma lista dos participantes, para que ela pudesse reservar lugar para nós. Lamentavelmente, por falha de comunicação pela qual me considero inteiramente responsável, acabaram sendo criadas várias listas e cada um confirmou sua presença em uma. Para piorar, o facebook esconde e desesconde essas listas. 

Então, vamos ver se conseguimos botar ordem na bagunça com esta lista fora do facebook.

Se você quer participar e se seu nome não estiver aqui, por favor, deixe seu nome em um comentário a esta postagem, que eu vou atualizando a lista.  

Vamos ver se agora funciona?

Obrigado


LISTA ATUALIZADA, POR ORDEM ALFABÉTICA




Afonso Carlos Neves
Alda Domingues Tagliatti
Aldo Augusto Furtado
Aldo Della Monica
Amália Covic
Amarisia Luz
Ana Maria Di Chacchio
Antonio Marcos Fantini
Cecilia Martinez
Celia Moretti
Celso Martins de Souza
Cibele Stuchi
Clarice Storti
Claudio Teixeira
Denis Arrebola
Domenico Musolino
Edson Biondillo
Eliezabeth Castello Branco
Eliza Gaspar
Elizabeth Romano
Elson Biondillo
Fátima Aparecida Garcia Loureiro Vares
Gerson Leis
Gregório Bacic
Guaraciaba Migueletti
Helio Sampaio Filho
Inez Guimarães Pistelli
Irene Marzullo
Isabel Amparo Moreno
Ivone Ragazzini
Jose Amaro
Jose Carlos Gomes do Nascimento
Jose Erasmo Rossit Silveira
Katia Camargo
Katia Cristina Bassichetto
Kauê Furlan
Laercio Crescente
Laerte Temple
Liamara Rosatto
Liamara Rosatto 
Luci Musolino
Luiz Augusto Laurino
Marcia Pires
Marco Antonio Rodrigues
Maria Emilia Cerqueira
Maria Tereza Taverna
Marilurdes Lopes
Marina Reis
Mario José Cerquera Filho
Marisia Silva
Mary Tanaka
Miriam Martins Fantini
Norma Valença Hernandes Lopes
Ricardo Agarelli
Rosa Maria Buchab
Rosatto Jorge
Roseli Martinez
Rosely Aparecida Roberto
Ruth Adissi
Sidney Soares
Sonia Acurso
Sonia Arrebola
Sonia Maria Sierra
Stephany Rodrigues
Stephany Rodrigues
Sueli Julia Pereira
Telma Maia
Tereza Barata
Vera Lucia Rodrigues
Walter Freoa


Saturday, September 8, 2012

Benedito Ferreira de Albuquerque


Havia só um aluno negro no Ascendino, quando entrei. Com o tempo, apareceram mais uma ou duas "pessoas de cor", como se dizia na época. Havia pouquíssimos negros no Tatuapé, acho que até hoje a situação é a mesma. Curiosamente, o diretor, professor Benedito Ferreira de Albuquerque era negro. Negro retinto, sem uma mácula de branco. Todos achavam aquilo muito estranho, imagine, preto diretor de escola! Mas eram coisas ditas a boca pequena. Embora muitos não aprovassem muito a ideia, já era considerado falta de educação reclamar de um negro que tinha um comportamento irrepreensível.

Porque o Ditão era irrepreensível.

Benedito Ferreira de Albuquerque


Fisicamente, era uma estátua. Alto, forte, espaduado com um rosto bonito. Sempre bem barbeado e com um grosso bigode perfeitamente aparado. Sempre vestia as roupas severas que achava apropriadas ao seu cargo: terno cinza-chumbo, camisa branca e gravata azul ou cinzenta.

Roupas severas para um homem severo, um tanto intolerante. Seguia à risca os regulamentos, que conhecia de cor. Não tolerava infrações. Quando perdoava algum pecado menor, antes de conceder seu perdão, explicava exatamente que dispositivo legal ou regulamentar lhe permitia o ato magnânimo e, ainda, de quebra, citava meia dúzia de autores que aconselhavam a liberalidade em casos como aquele. Era um homem que não brincava em serviço.

Era um trabalhador incansável. A porta de seu gabinete estava sempre aberta e ele sempre escrevendo, salvo quando decidia sair para uma ronda. Escrevia tanto que tinha um calo visível no dedo médio da mão direita. Atingiu o cargo de carreira mais alto da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. No seu carimbo, havia uma linha extra, dizendo que era “isento de inspeção federal”.

Tinha especial horror à mistura entre os sexos. As mulheres usavam a escada da Rua do Ouro, os homens, a escada da Rua Tuiuti e as classes mistas só eram formadas quando impossível formar classes separadas.

Nos bailes pró-formatura, aparecia acompanhado de esposa e filho, um adolescente que tinha herdado os bonitos traços do pai e que estudava no próprio colégio.

Não parecia ser um homem feliz. Sabe-se que tirou a própria vida. Há ao menos duas versões, muito divergentes, sobre as razões. Prefiro não enodoar a memória dele especulando a respeito de informações sobre as quais não tenho certeza.

Saturday, September 1, 2012

E ela conseguiu


O “prédio velho” ainda guarda a mesma forma de antes, creio eu. Eram três corpos, um deles apontando para o que considerávamos a entrada principal, que ficava na esquina da Rua do Ouro com a Tuiuti. O piso, embaixo desse corpo, era cimentado. O resto era terra batida. Era ali que se realizava a maior parte das solenidades escolares.

Naquele tempo, o professor Sérgio Correia, um dos símbolos do corpo docente, sempre escolhia uma aluna para declamar um poema. Um dia, uma colega cujo nome não vou revelar (se estiver lendo isto e quiser se apresentar, esteja à vontade), foi declamar o Pequenino Morto de Vicente de Carvalho, um poema longo e lúgubre. A maioria do pessoal não gostava de declamação e a atenção foi se dispersando por pensamentos mais alegres e agradáveis do que o tema da poesia.

De repente, um silêncio total: a declamadora tinha parado sem chegar ao fim. Tinha se esquecido do fim, tentou recomeçar, não conseguiu. Coberta de vergonha, fugiu às carreiras. Sérgio Correia, o grande Sérgio Correia, temido e odiado por sua ironia que muitos consideravam arrogância, respeitado por sua grande competência, levantou e foi atrás da declamadora, levando consigo uma das inspetoras de alunos.

Mesmo os que não gostavam da declamadora, achavam a poesia horrível e detestavam declamação em geral ficaram constrangidos. Muito ruim ver uma colega naquela situação.

O diretor, o famoso e temido Benedito Ferreira de Albuquerque, disse qualquer coisa e prosseguiu com a solenidade. Falou não me lembro quem e, logo em seguida, reapareceu a declamadora, olhar refulgente, escoltada pelo Sérgio Correia. Sérgio pediu a palavra, com voz firme, que a aluna ia declamar de novo. Silêncio na audiência. A colega deu dois passos, e recomeçou, ainda mais dramática que na primeira vez. Mas foi até o fim.

Acho que nunca ninguém foi tão aplaudido em uma solenidade quanto ela. Mesmo os que detestavam a declamação em geral e tinham detestado aquela poesia em particular, aplaudiram. A menina, emocionada agradeceu. Se fosse hoje, teria dado um merecido beijo no Sérgio.

Nunca soube exatamente o que tinha acontecido, mas parece que a inspetora de alunos encontrou a colega se debulhando em lágrimas num banheiro e a convenceu a conversar com o Sérgio, que a esperava na porta. O professor lhe deu uma injeção de coragem, persuadiu a moça de que ela ia conseguir na segunda tentativa, usando não sei de que argumentos.

E ela conseguiu.

Antes que me corrijam: o Sérgio não se assinava assim. Mas a norma ortográfica diz que os vivos são citados com o nome grafado como eles o usam, os mortos são citados com seu nome grafado como manda a ortografia vigente. Não vou cometer um erro de ortografia justamente no nome de nosso mestre.



Tuesday, July 31, 2012

Convivências



Mais uma participação do Nelson Carvalheiro. Além de agradecer, só posso dizer que me lembro da história, que estava lá e que vi o que foi feito da "arma do crime". Mais, não digo. Meus lábios estão selados. 


Cursei o ginásio no prédio velho de 1958 a 1961 e me acostumei rapidamente a ir para a escola à noite. No intervalo grande, uma espécie de “footing” desordenado acontecia em volta de um pequeno jardim central com bancos. Ao lado dos muros baixos do colégio também havia alguns lugares para sentar e era lá que muitos alunos acabavam se reunindo para conversar, rir e mesmo fumar, o que era proibido e fiscalizado por alguns inspetores.

Nos quatro anos que passei naquele prédio nunca vi uma briga, embora de vez em quando soubesse de ameaças – quase sempre feitas por pretendentes rejeitados. Os que tinham namoradinhas eram os principais alvos de algumas rixas, mas nada de concreto ocorria. Mas certa vez os que estavam naquele espaço de convivência testemunharam uma grande encrenca. Ninguém conhece a história com exatidão, exceto seus protagonistas, mas não custa passar adiante a versão que ficou em minha lembrança.

Um garoto mais velho que estudava na minha classe saíra com a namorada durante um intervalo maior, aproveitando a ausência de algum professor. A alguns quarteirões da escola, mais para as bandas do famoso Sampaio Moreira, alguns garotos também mais velhos falaram algumas gracinhas para eles. Naquele tempo, qualquer palavra mais forte era uma ofensa, principalmente na frente das mulheres. O rapaz reagiu prontamente, pois era valente e não se dispunha a levar desaforo para casa. Após alguma discussão, desafiou o mais velho deles – o temido Dedé – para uma briga mano a mano, mas primeiro se propôs a levar a namorada para a escola.

O casal foi seguido de perto pelos garotos que o provocaram. Ao chegar à escola, o rapaz empurrou a namorada pelo portão e se voltou para enfrentar o desafeto. Entretanto, pressentindo que seria presa fácil para aquele grupo, que se aproximou agressivamente, sacou uma tesourinha que sempre carregava no bolso, dessas de cortar unhas, e não teve dúvidas – enfiou-a no corpo do primeiro que chegou perto dele. A correria que se seguiu despertou a atenção de quem estava dentro da escola e só então foi possível perceber que alguma coisa anormal estava acontecendo. Só me lembro de ver umas quatro pessoas carregando o Dedé com a barriga suja de sangue.

O rapaz voltou para a escola e em altos brados reclamava que ninguém o ajudara. Não adiantou falar que era impossível saber o que estava acontecendo, pois todos os alunos estavam usufruindo o recreio. Mesmo assim, transtornado, o rapaz continuou reclamando que fora abandonado pelos amigos, queixando-se a todos que se aproximavam dele.

No final da noite, quando as aulas terminaram, eu e dois colegas fomos os últimos a sair da escola, pois morávamos praticamente em frente a ela e não tínhamos pressa. Em frente ao portão estava o Biluca, completamente bêbado, querendo saber quem tinha “furado” seu irmão. Apesar de ele ser bem mais velho que eu, éramos conhecidos. Ele era par constante (assim eram chamados os casais que sempre dançavam juntos) de uma moça chamada Maria e podia ser encontrado quase todas as noites de junho nas festas juninas promovidas por um clube de bocha que existia na Rua Fernandes Pinheiro, na esquina com a avenida que seria transformada na Radial Leste.

O Biluca era um bailarino de fazer inveja, mas naquela noite quase não conseguia dar um passo sem ajuda. Chorando, ele falava o tempo todo que, no hospital para onde fora levado, seu irmão reclamara aos prantos que ninguém o ajudara. Com muito custo, explicamos a ele que quem necessitara de ajuda era o outro, pois o Dedé estava acompanhado por uma turma e eles certamente teriam massacrado o rapaz. Depois de muita conversa ele se conformou e foi embora sozinho, recusando-se a receber auxílio para caminhar.

Felizmente o caso não teve consequências mais sérias. Nenhum órgão vital do Dedé foi atingido e alguns pontos foram suficientes para estancar a hemorragia e fechar o ferimento. Ninguém se queixou à Polícia e o caso foi “arquivado” naturalmente. Mesmo assim, o assunto ainda repercutiu durante algum tempo e todos os casais de namorados passaram a evitar aquele território dominado pelo Dedé.

Hoje, lembrando o ocorrido, percebo que naquela noite comecei a aprender uma lição importante sobre o comportamento humano: como é estranha essa mania de reclamar que ninguém nos ajudou quando mais precisávamos! É como transferir para os outros a responsabilidade por aquilo que fizemos ou deixamos de fazer!

Sunday, July 22, 2012

Acerto de Contas




Artigo enviado por Nelson Carvalheiro, a quem agradeço. 


Na velha Rua do Ouro, que começava na Rua Tuiuti, havia nas proximidades do AR uma padaria, a papelaria do pai do Washington, um bazar e, na esquina com a Rua Cel. Luis Americano, uma oficina de conserto de sapatos.

Nesse pequeno trecho, com algumas poucas residências, quase todos os dias, em geral no final da tarde, um grupo de adolescentes jogava futebol com uma bola pequena. Quando algum veículo se aproximava, alguém gritava e a brincadeira parava imediatamente, reiniciando logo depois. O mesmo acontecia quando alguém passava pela calçada.

Num belo sábado, um pouco antes do anoitecer, surgiu na calçada um casal de namorados e o jogo parou. Um dos meninos, franzino, mas metido a valente, e muito chegado a brincadeiras, reconheceu o rapaz e começou a gritar.

– Sai prá lá Juventino, aprende a jogar bola!

Ninguém sabe como mas, em vez de ficar parada, a bola voou lentamente na direção da calçada. Para azar de todos, ela bateu nas pernas da garota, deixando uma mancha escura em sua saia. Não foi nada grave, mas todos gritaram com o provável autor do feito e alguns se apressaram a pedir desculpas à moça. O rapaz não disse nada, mas fuzilou com os olhos o suspeito da proeza.

Na segunda-feira à noite, alguns daqueles jovens estavam na sala de aula localizada no andar térreo, à esquerda de quem entrava no prédio pela porta principal, aguardando a chegada do professor de Trabalhos Manuais. Antes de ele chegar, entrou na classe o Antonio Carlos, o “Nenê”, rastreando a sala com os olhos, procurando alguém.

O Nenê era um pouco mais velho que a maioria dos alunos daquela classe e tinha uma altura também acima da média. Ele havia conhecido a moça havia pouco tempo e era a primeira vez que estavam saindo juntos. Naquele tempo, era comum que os casais de namorados passeassem juntos pelas ruas do bairro, sem temer grandes ameaças a sua segurança.

Ninguém se importou com a chegada do Nenê, até que ele visse o perna-de-pau, caminhasse em sua direção, ficasse em sua frente e o pegasse pelos braços, levantando-o.

– Moleque! Safado! Quem é o Juventino? Quem?

Vermelho, segurando o infeliz, ele se aproximou de um armário, ao lado da porta, e o colocou sentado no tampo, a quase dois metros de altura. Assustado e humilhado, o garoto implorava pelo socorro de seu carrasco, enquanto este se dirigia para um lugar no fundo da sala, indiferente, saboreando antecipadamente o desfecho de sua vingança.

– Me põe no chão, o professor vai chegar!

Quando o Professor Durvalino entrou na sala, todos os alunos se levantaram, como de praxe. Ele olhou para o topo do armário e dirigiu-se à sua mesa. Antes de sentar, encarou o aluno, olhos de quem começava a se divertir com a cena.

– O que você está fazendo aí?

A classe explodiu numa gargalhada. O professor olhou para a turma e apontou o dedo para o aluno mais alto, exatamente o Antonio Carlos, praticamente adivinhando quem teria sido o autor da proeza.

– Você aí, Antonio Carlos, faça o favor de tirar o moleque de cima do armário!

Todos ficaram em silêncio enquanto o pedido era atendido, mas os sorrisos irônicos do Professor Durvalino e do Nenê indicaram que justiça fora feita. O professor mandou todos os alunos sentarem e iniciou a aula, como se nada houvesse acontecido.


Friday, July 20, 2012

Um filme pornô

O prédio tinha um zelador, José Lourenço da Silva, se não me engano. Por algum motivo, ganhou o apelido de Tangerina. De dia, consertava rádios, de noite era zelador do Ascendino, onde tinha, entre outras, a função de tocar a campainha do sinal. Habilidoso, responsável e posudo, gostava de mostrar sua autoridade.

Um dia, o colégio recebeu um projetor de filmes, usado, de vez em quando, pelo Dr. Grecchi, para exibir alguns dos poucos filmes científicos que havia disponíveis.

Um dia, lá para 1958, fui convidado para assistir uns filmes, digamos, não acadêmicos, numa sessão particular. Numa manhã de sábado, quando o Grupo Escolar não tinha aula, sorrateiramente entramos pela porta principal, que ficava no bloco médio do prédio, onde estavan as áreas administrativas. Dava para um corredor de distribuição, no qual havia duas portas para o chamado salão nobre. Do lado direito do salão nobre, havia um corredorzinho, creio que com uns banheiros, mas que era usado como almoxarifado. Ali, nos reunimos, uns oito ou dez felizardos, para assistir a paleofilmes pornô.

O seu José iria ser o projecionista. Não sei quem arranjou os filmes. Entramos lá, fechou-se a porta, com a assistência sentada no chão. O projetor, em cima de uma mesinha. O Tangerina dizendo que ali só ele podia fumar, porque era perigoso queimar o filme. Fumou o tempo todo, um cigarro atrás do outro, mais par se exibir do que por qualquer outro motivo.

Naquela época, essas coisas eram muito complicadas. A revista Playboy só entrava de contrabando, havia os catecismos do Carlos Zéfiro, essas coisas. Mas era pouco, raro e, geralmente, ruim. Um filme, um filme! Meu Deus, sexo ao vivo, num filme!

Grande decepção. Os filmes, porque eram vários, eram horríveis. Coisas, creio eu, da década de vinte,  pouco nítidos, tremidos, piscando, cortados e colados mil vezes. Mas ridículos que eróticos.

Mas, enfim, era o que havia.


O primeiro prédio

Nosso primeiro prédio foi o do Congonhas, oficialmente Grupo Escolar "Visconde de Congonhas do Campo". Um grupo escolar atendia somente do primeiro ao quarto ano primários, normalmente cursados pela pimpolhada de 7 a 11 anos. De noite, virava ginásio, porque faltavam prédios para as escolas. Mesmo o Grupo Escolar estava lotado a mais não poder: três turnos de três horas, 8-11, 11-14, 14-17. O absurdo de se imaginar que era possível alguém esvaziar uma escola às 11 da manhã e tê-la cheia às 11 horas da mesma manhã, com outras quatrocentas crianças é só superado pelo absurdo de ter crianças estudando três horas na hora do almoço.

Nossas aulas iam das 18h50 às 22h20. Na hora do recreio ou intervalo grande, de quinze minutos, abriam-se os portões para comprarmos algo de comer na padaria do Ouro, porque não havia cantina. Muitos traziam lanche de casa.

Mas o pior eram as carteiras. Ah, as carteiras! Como o prédio tinha sido mobiliado para crianças de 7-11/12 anos, as carteiras eram muito pequenas, deste modelo
Se você nunca viu nada assim, é bom saber que essa era a carteira de meio de fila. Um aluno sentava no banco e escrevia na mesa da carteira da frente. A primeira carteira da fila não tinha banco, a última não tinha mesa. Embaixo da mesa, havia uma prateleira, para guardar livros e cadernos que não estivessem em uso. Ficava, portanto muito pouco espaço para as pernas dos alunos, que estavam todo já na adolescência.

Dois outros problemas agravavam a situação. Primeiro que, naquela época, era comum o pessoal parar os estudos no fim do primário e retomar lá pelos 15-16 anos.  Na quarta série, já tinham lá seus 20. Imagine, um homem de vinte na carteira de uma criança de 11 anos. O segundo era o das mulheres, que usavam saia e precisavam manter os joelhos juntos o tempo todo e, portanto não podiam sentar escarranchadas, com uma perna para cada lado da carteira. Cavalgavam de silhão, por assim dizer.

Sunday, July 15, 2012

A primeira vez que ouvi falar em "Ascendino Reis"

A primeira vez que ouvi falar em "Ascendino Reis" foi em junho de 1954. Porque a escola em que eu ingressei era o Ginásio Estadual do Tatuapé e assim dizia na caderneta escolar.

O nome deve ter sido mudado no primeiro semestre de 1954. Descobri em junho, durante as provas parciais. Porque todo ano, em junho e novembro, havia as temidas "primeiras provas parciais", que a gente chamava "exames de junho". Temidas porque tinham peso maior no cômputo da média final do ano.

As provas parciais eram feitas em papel timbrado, fornecido pelo governo do Estado e os alunos tinham de preencher com seus nomes, números, identificação da série cursada e nome do estabelecimento. Eu estava na primeira série "D" e a primeira prova para nós foi Geografia, matéria ensinada pelo professor Eli Piccolo, um sujeito muito competente e formal, e normalmente de bom humor. Como era primeira vez que fazíamos aquilo, coube ele a tarefa de nos ensinar a preencher o cabeçalho (e, por falar nisso, ensinar aos menos letrados que era "cabeçalho" não "cabeçário". Então, nos explicou, metodicamente, como era seu hábito, que era para escrever "Ginásio Estadual, abre aspas, Professor Ascendino, escrito com esse e depois cê, Reis fecha aspas". 

Achei o nome ridículo. Como alguém pode se chamar Ascendino? 

Depois, com a criação do curso Científico, a escola passou a chamar-se Colégio Estadual "Professor Ascendino Reis". Mais tarde, não sei quando, virou Colégio Estadual e Escola Normal "Professor Ascendino Reis" . Depois, recebeu o nome de Instituto de Educação "Professor Ascendino Reis" e aí perdi a pista.

Em algum momento, houve outro Ginásio Estadual do Tatuapé, mas é bem posterior.



Saturday, June 30, 2012

Como entrei no Ascendino


O Ascendino foi criado em 31 de dezembro de 1952, com o nome de “Ginásio Estadual do Tatuapé”, numa iniciativa do Deputado Estadual João Mendonça Falcão, que posteriormente ficou famoso como presidente da Federação Paulista de Futebol. O ginásio foi instalado em 9 de fevereiro de 1953. Mais ou menos na mesma época, meus pais compraram uma casa na Rua Tuiuti 2110. A casa pertencia à família Belmonte, que ainda hoje tem membros no Tatuapé. Existe até hoje e abriga a K-Bags, ao lado do Correio.

Um dos motivos da compra era que “agora tinha ginásio em frente”. Os mais novos, quer dizer, a maioria de vocês, vão precisar de um pouco de informação. Naquela época, entrava-se na escola aos sete anos, no curso primário. Quem não fosse reprovado e não parasse no meio do caminho, aos 11 anos prestava um “exame de admissão” e, se fosse aprovado, era admitido a um ginásio, onde passava mais 4 anos estudando. Eram pouquíssimos os ginásios públicos e ter acesso a um deles era uma honra, porque o exame de admissão era dificílimo.

Foi uma vitória do João Mendonça Falcão ( 4/1/1918 – 13/1/1997), um ex-motorneiro de bonde (motorneiro era quem dirigia o bonde), que Jânio Quadros fez deputado estadual. Era homem de poucas luzes e os mesmos erros de português e lógica que posteriormente se atribuíram a Vicente Matheus, eram na época atribuídos a ele. Tinha amor por duas coisas: o Tatuapé e Futebol. Ao Tatuapé, deu o Ascendino. Da sua carreira como cartola, conheço pouco e entendo menos, porque futebol para mim sempre foi um mistério.

Quando mudei para o Tatuapé, em 1953, ainda não tinha terminado o primário. Cursei o 4º ano no Congonhas, onde o nível era bem mais baixo que o do Liceu Vera Cruz, na Rua Piratininga, que eu tinha cursado nos três primeiros. Para encurtar a história, fiz seis meses de “curso de admissão”, uma espécie de cursinho para quem ia prestar exame de admissão. Fiz na escola das professoras donas Tarcília e Elizena (grafias a confirmar), irmãs do José Maria Scarabel, que tinha uma farmácia na Tuiti. Fiz os seis meses de admissão e prestei o terrível exame para entrar no Ascendino em janeiro de 1954.

Lembro da minha mãe me segurando no colo, orgulhosa, mostrando meu nome, lá no alto, o primeiro colocado no exame. Voltei para casa todo cheio de mim.

Quem foi Ascendino Reis?




Sabe-se pouco sobre Ascendino Reis, lamentavelmente muito pouco. Fiz uma pesquisa, que me levou a dados fragmentários e controversos, alinhavados neste artigo. Se você tiver mais alguma informação, repasse para mim, por favor.

Seu nome completo era Ascendino Ângelo dos Reis. Aparentemente nasceu em Divina Pastora, um lugarejo em Sergipe, que ainda hoje tem menos de 5.000 habitantes, em abril de 1852. Liberatto Barreto, entretanto, em “Homens Ilustres do Brasil – Sergipe”. (Rio de Janeiro, 1923) afirma que nasceu em São Cristóvão, cidade bem maior e antiga capital do estado, provavelmente em 1847.

Seus pais foram João Francisco dos Reis e Rosa Florinda do Amor Divino.

Em 1874, colou grau na Faculdade de Medicina da Bahia, como uma tese intitulada “Diagnóstico diferencial das moléstias do coração”. 

Parece ter sido muito pobre e ter recebido um empréstimo do governo do estado de Sergipe para estudar medicina. Quitou a dívida com os próprios meios, quando começou a trabalhar.

Logo após a formatura, alistou-se no exército, tendo sido nomeado segundo-tenente do Corpo de Saúde, por decreto assinado por Dom Pedro II. Serviu em Aracaju, onde permaneceu até 1885. Enquanto servia, ensinava inglês e história no “Atheneu Sergipense” e na Escola Normal, além de prestar serviços (talvez como médico e em caráter gratuito) ao Asilo Nossa Senhora da Pureza. Foi professor de línguas e história e delegado de exames preparatórios, além de médico do corpo de polícia.
Em 1879, inaugurou o colégio “Parthenon Sergipense”, com alunos em regime de internato e externato.

Sua carreira sergipana findou-se quando, em 1885, foi servir em São Paulo, onde ficou até o fim da vida.


Em São Paulo, fez curso de direito, embora, ao que consta, jamais tenha advogado. Foi também professor concursado de Geografia, Corografia e Astronomia da Escola Normal Secundária. Lecionou ainda outras matérias, mostrando sua mente enciclopédica. 

Reformou-se em 1899, no posto de primeiro cirurgião e major-médico. Reformado,  continuou ensinando até 1907 e clinicando até a morte.

Em São Paulo, foi nomeado lente catedrático de Farmacologia e Matéria Médica da Faculdade de Medicina de São Paulo, onde regeu várias cadeiras.

Faleceu em setembro de 1926, no dia 14 ou no dia 16.

Há um interessante depoimento sobre Ascendino Reis, retirado do livro Médicos de Outrora do prof. Rubião Meira da Faculdade de Medicina da USP, escrito em 1936/37. Vai aqui como encontrei aqui

Entre os velhos professores da Faculdade de Medicina, destacou-se sempre pela sua atitude justiceira e pelo seu vasto saber o Ascendino Ângelo dos Reis.

Era enciclopédico. Trabalhador como poucos. Ilustrado como professor, os alunos o achavam “cacete”, porque profundo e minucioso. Ensinava “farmacologia e arte de formular”. Suas aulas tinham um cunho singular. Gostava que os alunos apresentassem objeções sobre o que ia discorrendo, o que fazia às vezes uma grande algazarra, tal o número de propostas, feitas não com o intuito de aprender, mas com o desejo de atrapalhar o mestre. As mais disparatadas coisas saiam em cena, e enquanto uns se ocupavam na discussão com o professor, outros distraiam-se, lendo jornais do dia ou mesmo jogando, habitualmente pôquer, falando alto, contando pilherias. Uma balburdia, em que se sentia, pelo menos, a vida da juventude, aliás desrespeitosa. Ficava aborrecido quando a aula era silenciosa – isto o incomodava demasiado, e por castigo repisava a matéria, fazia perguntas, desejando que a turbulência aparecesse. Esta era a vingança dos moços – manifestarem-se em silêncio, quebrando a linha habitual de barulho – coisas da mocidade, que é sempre a mesma, sempre impenitente.  

Uma vez, em aula, quando prelecionando sobre os desinfetantes intestinais, anunciou que ia falar sobre os terminados em ol, como o salol, o benzonaftol, o betol... ao que um estudante gaiato interrompeu: “deve-nos falar, então, também sobre o sol”. Retrucou: “pois falarei sobre o sol” e por uma hora e meia discorreu, demonstrando conhecimentos profundos de astronomia sobre o astro-rei. Embasbacou a rapaziada que não mais entendeu provocar a ilustração do mestre.


Bibliografia

Não tive condições de pôr as mãos em uma folha de papel sobre Ascendino Reis. Toda pesquisa foi feita via Internet. Foram consultados principalmente estes locais:






Apresentação


Meu nome é Danilo Nogueira, tenho 69 anos (estou escrevendo em 2012 — não sei quando você vai ler isto). A ideia de escrever este blogue surgiu numa reunião de ex-alunos do Ascendino Reis, quando descobri que muitos dos participantes nem sabiam que o colégio tinha iniciado sua vida no prédio onde ainda hoje é o Congonhas do Campo, na esquina da Rua do Ouro, que agora deram de chamar de Padre Estêvão Pernet

Comecei a achar que era minha obrigação falar um pouco sobre o que, para mim, vai ser sempre “o colégio”, não importa que nome a lei lhe confira, e sobre a vida no que era no prédio antigo.

Se você tem o Ascendino no coração, como eu e tantos outros, espero que goste deste blogue e me ajude, corrigindo meus erros e, quem sabe, mandando suas recordações.

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