Friday, July 20, 2012

Um filme pornô

O prédio tinha um zelador, José Lourenço da Silva, se não me engano. Por algum motivo, ganhou o apelido de Tangerina. De dia, consertava rádios, de noite era zelador do Ascendino, onde tinha, entre outras, a função de tocar a campainha do sinal. Habilidoso, responsável e posudo, gostava de mostrar sua autoridade.

Um dia, o colégio recebeu um projetor de filmes, usado, de vez em quando, pelo Dr. Grecchi, para exibir alguns dos poucos filmes científicos que havia disponíveis.

Um dia, lá para 1958, fui convidado para assistir uns filmes, digamos, não acadêmicos, numa sessão particular. Numa manhã de sábado, quando o Grupo Escolar não tinha aula, sorrateiramente entramos pela porta principal, que ficava no bloco médio do prédio, onde estavan as áreas administrativas. Dava para um corredor de distribuição, no qual havia duas portas para o chamado salão nobre. Do lado direito do salão nobre, havia um corredorzinho, creio que com uns banheiros, mas que era usado como almoxarifado. Ali, nos reunimos, uns oito ou dez felizardos, para assistir a paleofilmes pornô.

O seu José iria ser o projecionista. Não sei quem arranjou os filmes. Entramos lá, fechou-se a porta, com a assistência sentada no chão. O projetor, em cima de uma mesinha. O Tangerina dizendo que ali só ele podia fumar, porque era perigoso queimar o filme. Fumou o tempo todo, um cigarro atrás do outro, mais par se exibir do que por qualquer outro motivo.

Naquela época, essas coisas eram muito complicadas. A revista Playboy só entrava de contrabando, havia os catecismos do Carlos Zéfiro, essas coisas. Mas era pouco, raro e, geralmente, ruim. Um filme, um filme! Meu Deus, sexo ao vivo, num filme!

Grande decepção. Os filmes, porque eram vários, eram horríveis. Coisas, creio eu, da década de vinte,  pouco nítidos, tremidos, piscando, cortados e colados mil vezes. Mas ridículos que eróticos.

Mas, enfim, era o que havia.


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