O secretário do Ascendino era o Vanderlei Pretini, (irmão do
Airton Pretini, que deu nome à avenida que corre por baixo do Viaduto
Engenheiro Alberto Badra) o qual depois foi reitor da Universidade de
Guarulhos. Magro, alto (para os padrões da época), elegantíssimo, cultivava uma
figura de galã e tinha um tanto de reputação de conquistador, embora, na
escola, seu comportamento fosse irrepreensível. Sorridente, diplomático, era a
antítese do sério e rígido Benedito. Mas a secretaria do Ascendino, a despeito
da falta de pessoal e equipamento, funcionava muito bem e jamais ouvi alguma
crítica ao trabalho do Vanderlei. E a dupla, ao que parece, funcionava bem, a despeito das diferenças de personalidade.
Acho que o ponto alto da carreira do Vanderlei no Ascendino
foi a mudança. Sim, porque houve uma mudança. Se estávamos no prédio velho e fomos para o prédio novo, houve uma mudança.
Foi assim, eu estava lá e vi:
Um dia, o prédio ficou liberado para nós e ficamos todos
satisfeitos. Eu não ia estudar no prédio novo, mas estava satisfeito como os
outros. Fui pessoalmente humilhado pela diretora do Congonhas, uma senhora
arrogante que nos tratava por morcegos, porque
vivíamos à custa do sangue dos outros. Queria
olhar aquela mulher de cima, dizendo, veja,
agora, o ninho dos morcegos.
Mas, claro, tinha a mudança. Não havia muito a mudar, é
certo, porque todo o mobiliário de classe pertencia ao Congonhas. Mas havia
mobiliário de diretoria e secretaria, laboratórios e mais umas coisinhas.
Durante as férias do Benedito, o Vanderlei e o Herlis
Moidano Lopez e talvez mais uma ou duas pessoas resolveram pegar o pião na
unha. O Herlis sempre teve um forte espírito de liderança, como todos os que o
conheceram sabem, e jamais perdia a oportunidade de organizar um grupo para
fazer alguma coisa.
Conseguiram um caminhão emprestado com o pai do Milton di
Beo, que tinha uma fábrica de móveis na Euclides Pacheco e, um belo dia, fomos
lá fazer a mudança. Eu, que era dos mais novos da turma e sempre fui
fisicamente muito fraco, mas era e ainda sou muito metido, fui de café com leite.
Dei uns berros de incentivo, sabe, aquela coisa do vocês fazem força daí que eu gemo daqui, mas não passei disso.
Minha maior lembrança daquele dia é uma turma empurrando um armário
cheio de papéis pelo corredor e, depois, descendo as escadas com ele. Foi
milagre o armário não ter se desfeito em vida e ninguém ter se machucado. Mas
mudamos e mudamos bem.
O folclore da escola diz que, dias depois, o Benedito, ainda
em férias, ligou para o Vanderlei, para dizer que era necessário providenciar a
mudança junto às autoridades. Quase teve um desmaio quando o Vanderlei disse
que já estava tudo no lugar.
Quem quiser saber a história direitinho, pergunte ao Herlis.
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