Sabe-se pouco
sobre Ascendino Reis, lamentavelmente muito pouco. Fiz uma pesquisa, que me levou
a dados fragmentários e controversos, alinhavados neste artigo. Se você tiver mais
alguma informação, repasse para mim, por favor.
Seu nome completo era
Ascendino Ângelo dos Reis. Aparentemente
nasceu em Divina Pastora, um lugarejo em Sergipe, que ainda hoje tem menos de 5.000
habitantes, em abril de 1852. Liberatto Barreto, entretanto, em “Homens
Ilustres do Brasil – Sergipe”. (Rio de Janeiro, 1923) afirma que nasceu em São
Cristóvão, cidade bem maior e antiga capital do estado, provavelmente em 1847.
Seus pais foram
João Francisco dos Reis e Rosa Florinda do Amor Divino.
Em 1874, colou grau na Faculdade de Medicina da
Bahia, como uma tese intitulada “Diagnóstico diferencial das moléstias do
coração”.
Parece ter sido muito pobre e ter recebido um empréstimo
do governo do estado de Sergipe para estudar medicina. Quitou a dívida com os
próprios meios, quando começou a trabalhar.
Logo após a formatura, alistou-se no exército,
tendo sido nomeado segundo-tenente do Corpo de Saúde, por decreto assinado por
Dom Pedro II. Serviu em Aracaju, onde permaneceu até 1885. Enquanto servia, ensinava
inglês e história no “Atheneu Sergipense” e na Escola Normal, além de prestar
serviços (talvez como médico e em caráter gratuito) ao Asilo Nossa
Senhora da Pureza. Foi professor de línguas e história e delegado de exames preparatórios, além de médico do corpo de polícia.
Em 1879, inaugurou o colégio “Parthenon
Sergipense”, com alunos em regime de internato e externato.
Sua carreira sergipana findou-se quando, em 1885,
foi servir em São Paulo, onde ficou até o fim da vida.
Em São Paulo, fez curso de direito, embora, ao que consta, jamais tenha advogado. Foi também professor concursado de Geografia, Corografia e Astronomia da Escola Normal Secundária. Lecionou ainda outras matérias, mostrando sua mente enciclopédica.
Reformou-se em 1899, no posto de primeiro cirurgião
e major-médico. Reformado,
continuou
ensinando até 1907 e clinicando até a morte.
Em São Paulo, foi nomeado lente catedrático de
Farmacologia e Matéria Médica da Faculdade de Medicina de São Paulo, onde regeu
várias cadeiras.
Faleceu em setembro
de 1926, no dia 14 ou no dia 16.
Há um interessante depoimento sobre Ascendino Reis,
retirado do livro Médicos de Outrora do prof.
Rubião Meira da Faculdade de Medicina da USP, escrito em 1936/37. Vai aqui como encontrei aqui.
Entre os velhos professores da
Faculdade de Medicina, destacou-se sempre pela sua atitude justiceira e pelo
seu vasto saber o Ascendino Ângelo dos Reis.
Era enciclopédico. Trabalhador
como poucos. Ilustrado como professor, os alunos o achavam “cacete”, porque
profundo e minucioso. Ensinava “farmacologia e arte de formular”. Suas aulas
tinham um cunho singular. Gostava que os alunos apresentassem objeções sobre o
que ia discorrendo, o que fazia às vezes uma grande algazarra, tal o número de
propostas, feitas não com o intuito de aprender, mas com o desejo de atrapalhar
o mestre. As mais disparatadas coisas saiam em cena, e enquanto uns se ocupavam
na discussão com o professor, outros distraiam-se, lendo jornais do dia ou
mesmo jogando, habitualmente pôquer, falando alto, contando pilherias. Uma
balburdia, em que se sentia, pelo menos, a vida da juventude, aliás
desrespeitosa. Ficava aborrecido quando a aula era silenciosa – isto o
incomodava demasiado, e por castigo repisava a matéria, fazia perguntas,
desejando que a turbulência aparecesse. Esta era a vingança dos moços –
manifestarem-se em silêncio, quebrando a linha habitual de barulho – coisas da
mocidade, que é sempre a mesma, sempre impenitente.
Uma vez, em aula, quando
prelecionando sobre os desinfetantes intestinais, anunciou que ia falar sobre
os terminados em ol, como o salol, o benzonaftol, o betol... ao que um
estudante gaiato interrompeu: “deve-nos falar, então, também sobre o sol”.
Retrucou: “pois falarei sobre o sol” e por uma hora e meia discorreu,
demonstrando conhecimentos profundos de astronomia sobre o astro-rei. Embasbacou
a rapaziada que não mais entendeu provocar a ilustração do mestre.
Bibliografia
Não tive condições
de pôr as mãos em uma folha de papel sobre Ascendino Reis. Toda pesquisa foi
feita via Internet. Foram consultados principalmente estes locais:
Parabéns pela pesquisa Sr. Danilo! Provavelmente a grande maioria dos alunos e professores da Escola Estadual Ascendino Reis, bem como dos que transitam ou trabalham nessa avenida não sabem quem ele foi.
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