Saturday, June 30, 2012

Como entrei no Ascendino


O Ascendino foi criado em 31 de dezembro de 1952, com o nome de “Ginásio Estadual do Tatuapé”, numa iniciativa do Deputado Estadual João Mendonça Falcão, que posteriormente ficou famoso como presidente da Federação Paulista de Futebol. O ginásio foi instalado em 9 de fevereiro de 1953. Mais ou menos na mesma época, meus pais compraram uma casa na Rua Tuiuti 2110. A casa pertencia à família Belmonte, que ainda hoje tem membros no Tatuapé. Existe até hoje e abriga a K-Bags, ao lado do Correio.

Um dos motivos da compra era que “agora tinha ginásio em frente”. Os mais novos, quer dizer, a maioria de vocês, vão precisar de um pouco de informação. Naquela época, entrava-se na escola aos sete anos, no curso primário. Quem não fosse reprovado e não parasse no meio do caminho, aos 11 anos prestava um “exame de admissão” e, se fosse aprovado, era admitido a um ginásio, onde passava mais 4 anos estudando. Eram pouquíssimos os ginásios públicos e ter acesso a um deles era uma honra, porque o exame de admissão era dificílimo.

Foi uma vitória do João Mendonça Falcão ( 4/1/1918 – 13/1/1997), um ex-motorneiro de bonde (motorneiro era quem dirigia o bonde), que Jânio Quadros fez deputado estadual. Era homem de poucas luzes e os mesmos erros de português e lógica que posteriormente se atribuíram a Vicente Matheus, eram na época atribuídos a ele. Tinha amor por duas coisas: o Tatuapé e Futebol. Ao Tatuapé, deu o Ascendino. Da sua carreira como cartola, conheço pouco e entendo menos, porque futebol para mim sempre foi um mistério.

Quando mudei para o Tatuapé, em 1953, ainda não tinha terminado o primário. Cursei o 4º ano no Congonhas, onde o nível era bem mais baixo que o do Liceu Vera Cruz, na Rua Piratininga, que eu tinha cursado nos três primeiros. Para encurtar a história, fiz seis meses de “curso de admissão”, uma espécie de cursinho para quem ia prestar exame de admissão. Fiz na escola das professoras donas Tarcília e Elizena (grafias a confirmar), irmãs do José Maria Scarabel, que tinha uma farmácia na Tuiti. Fiz os seis meses de admissão e prestei o terrível exame para entrar no Ascendino em janeiro de 1954.

Lembro da minha mãe me segurando no colo, orgulhosa, mostrando meu nome, lá no alto, o primeiro colocado no exame. Voltei para casa todo cheio de mim.

Quem foi Ascendino Reis?




Sabe-se pouco sobre Ascendino Reis, lamentavelmente muito pouco. Fiz uma pesquisa, que me levou a dados fragmentários e controversos, alinhavados neste artigo. Se você tiver mais alguma informação, repasse para mim, por favor.

Seu nome completo era Ascendino Ângelo dos Reis. Aparentemente nasceu em Divina Pastora, um lugarejo em Sergipe, que ainda hoje tem menos de 5.000 habitantes, em abril de 1852. Liberatto Barreto, entretanto, em “Homens Ilustres do Brasil – Sergipe”. (Rio de Janeiro, 1923) afirma que nasceu em São Cristóvão, cidade bem maior e antiga capital do estado, provavelmente em 1847.

Seus pais foram João Francisco dos Reis e Rosa Florinda do Amor Divino.

Em 1874, colou grau na Faculdade de Medicina da Bahia, como uma tese intitulada “Diagnóstico diferencial das moléstias do coração”. 

Parece ter sido muito pobre e ter recebido um empréstimo do governo do estado de Sergipe para estudar medicina. Quitou a dívida com os próprios meios, quando começou a trabalhar.

Logo após a formatura, alistou-se no exército, tendo sido nomeado segundo-tenente do Corpo de Saúde, por decreto assinado por Dom Pedro II. Serviu em Aracaju, onde permaneceu até 1885. Enquanto servia, ensinava inglês e história no “Atheneu Sergipense” e na Escola Normal, além de prestar serviços (talvez como médico e em caráter gratuito) ao Asilo Nossa Senhora da Pureza. Foi professor de línguas e história e delegado de exames preparatórios, além de médico do corpo de polícia.
Em 1879, inaugurou o colégio “Parthenon Sergipense”, com alunos em regime de internato e externato.

Sua carreira sergipana findou-se quando, em 1885, foi servir em São Paulo, onde ficou até o fim da vida.


Em São Paulo, fez curso de direito, embora, ao que consta, jamais tenha advogado. Foi também professor concursado de Geografia, Corografia e Astronomia da Escola Normal Secundária. Lecionou ainda outras matérias, mostrando sua mente enciclopédica. 

Reformou-se em 1899, no posto de primeiro cirurgião e major-médico. Reformado,  continuou ensinando até 1907 e clinicando até a morte.

Em São Paulo, foi nomeado lente catedrático de Farmacologia e Matéria Médica da Faculdade de Medicina de São Paulo, onde regeu várias cadeiras.

Faleceu em setembro de 1926, no dia 14 ou no dia 16.

Há um interessante depoimento sobre Ascendino Reis, retirado do livro Médicos de Outrora do prof. Rubião Meira da Faculdade de Medicina da USP, escrito em 1936/37. Vai aqui como encontrei aqui

Entre os velhos professores da Faculdade de Medicina, destacou-se sempre pela sua atitude justiceira e pelo seu vasto saber o Ascendino Ângelo dos Reis.

Era enciclopédico. Trabalhador como poucos. Ilustrado como professor, os alunos o achavam “cacete”, porque profundo e minucioso. Ensinava “farmacologia e arte de formular”. Suas aulas tinham um cunho singular. Gostava que os alunos apresentassem objeções sobre o que ia discorrendo, o que fazia às vezes uma grande algazarra, tal o número de propostas, feitas não com o intuito de aprender, mas com o desejo de atrapalhar o mestre. As mais disparatadas coisas saiam em cena, e enquanto uns se ocupavam na discussão com o professor, outros distraiam-se, lendo jornais do dia ou mesmo jogando, habitualmente pôquer, falando alto, contando pilherias. Uma balburdia, em que se sentia, pelo menos, a vida da juventude, aliás desrespeitosa. Ficava aborrecido quando a aula era silenciosa – isto o incomodava demasiado, e por castigo repisava a matéria, fazia perguntas, desejando que a turbulência aparecesse. Esta era a vingança dos moços – manifestarem-se em silêncio, quebrando a linha habitual de barulho – coisas da mocidade, que é sempre a mesma, sempre impenitente.  

Uma vez, em aula, quando prelecionando sobre os desinfetantes intestinais, anunciou que ia falar sobre os terminados em ol, como o salol, o benzonaftol, o betol... ao que um estudante gaiato interrompeu: “deve-nos falar, então, também sobre o sol”. Retrucou: “pois falarei sobre o sol” e por uma hora e meia discorreu, demonstrando conhecimentos profundos de astronomia sobre o astro-rei. Embasbacou a rapaziada que não mais entendeu provocar a ilustração do mestre.


Bibliografia

Não tive condições de pôr as mãos em uma folha de papel sobre Ascendino Reis. Toda pesquisa foi feita via Internet. Foram consultados principalmente estes locais:






Apresentação


Meu nome é Danilo Nogueira, tenho 69 anos (estou escrevendo em 2012 — não sei quando você vai ler isto). A ideia de escrever este blogue surgiu numa reunião de ex-alunos do Ascendino Reis, quando descobri que muitos dos participantes nem sabiam que o colégio tinha iniciado sua vida no prédio onde ainda hoje é o Congonhas do Campo, na esquina da Rua do Ouro, que agora deram de chamar de Padre Estêvão Pernet

Comecei a achar que era minha obrigação falar um pouco sobre o que, para mim, vai ser sempre “o colégio”, não importa que nome a lei lhe confira, e sobre a vida no que era no prédio antigo.

Se você tem o Ascendino no coração, como eu e tantos outros, espero que goste deste blogue e me ajude, corrigindo meus erros e, quem sabe, mandando suas recordações.

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